Não escrevo para ti, mas talvez daqui a alguns bons anos sejam à tua pessoa estas palavras.
Hoje é para o senhor e para a senhora. Como vão? Estão caminhando para onde desejam?
Ou seus passos ainda correm soltos na vida, sem saberes onde chegarás?
Na madrugada pensei em nós, e nos anos que virão
E ainda não temos idéia das andanças e lutas que teremos que enfrentar.
Sinto em mim, a velhinha que já carrego a me consolar,
A senhora em mim me transformar.
No entanto, penso que é um engano nosso achar que não seremos os mesmos.
Seremos os mesmos!
E isso não implica
ser fixo, estagnado.
E sim um mesmo ser, capaz das mais impressionantes transformações.
De texturas da pele, de gestos intermináveis de amor com as mesmas mãos caducas
que um dia eram tão pequeninas, a agarrar um dedo de pessoa mais velha.
De nós mesmos à nós mesmos.
Um mesmo corpo a testemunhar teus passos,
Acidentes e ingenuidades.
Uma mesma vida, que nasce e morre e nos percorre por inteiros,
Por nossa vida inteira...
E não conseguimos perceber sua união.
Trazer conosco encantamento, deixar crescer compreensão.
Penso na menina que minha avó foi, e nos sonhos que ela tinha.
De que brincava? O que a encantava?
Hoje a percebo tão amargurada, vejo seus calos e o cansaço, sinto sua solidão.
O colo que me embalou,
As mãos que meus cabelos acariciaram, ainda têm sonhos?Quais?
Sabe como é uma incrível mulher?
À que horas do tempo ficou sua energia? Em que dia reencontrará seus anseios?
A solidão invadiu a penumbra do quarto
E a sensação de não ter a quem correr assusta,
E no entanto, teu colo, sempre ofereces.
Sinto hoje, como se avó tua, eu fosse.
Sou a senhora que olha a fotografia da antiga menina com os olhos bobos a sorrir.
Menina senhora....senhora menina.
Descansa, pois cuidarei de ti.
Paola Mallmann
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