O Livretu é um...

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Porto Alegre, RS, Brazil
Blog dedicado à livre literatura. Poemas, contos, crônicas, músicas, palavras ao vento... e o que te fizeres viajar pela imaginação. O LIVRETU é livre, e surgiu da idéia de alguns amigos dividirem suas produções, delírios, sonhos, alegrias e letras. Envia tuas composições também! Faça parte dessa grande esfera literária. É livre. E como fala nosso grande Drummond: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida. Envia para livre_tu@hotmail.com tuas idéias. O blog já fez 2 anos e comemora com uma mini-edição impressa e uma confraternização de artes, o ORGIARTE, ambos indo para a sétima edição.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Desgosto

Ele odiava revistas de banheiro. Aquelas mesmo, que ficavam num cestinho do lado do vaso sanitário.
Aquelas pútridas revistas, pensava, o fitavam com escárnio. Ficavam lá esperando para serem lidas, e tinham absoluta certeza de que o seriam, por isso riam-se dele.

Sabiam, as malditas, que naqueles momentos de solidão não se havia mais absolutamente nada interessante a fazer.

Riam-se a ponto de humilhá-lo: sabiam que ele não resistiria folheá-las, mesmo tendo plena consciência da variedade incontável de coliformes fecais espalhados pelas páginas - desde os descaramentos da politicagem até as seções enfadonhas de variedades para patricinhas.

Era o que se tinha de mais cômodo àquele instante; detestava reconhecer que era informação adquirida puramente via goela abaixo.

E também achava categoricamente repugnante ter de umedecer o dedo na língua pra poder trocar de página. Porém só o percebia depois de já ter engolido.



Mariana Somariva

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Vida: um salto para a morte

Nasci e imediatamente me atirei de um precipício. Um super abismo - incomensurável - um eternamente grande. "Seria eu um naturalmente suicida?" E cá estou caindo, ainda, e mesmo depois de anos indo em direção ao chão, não vejo sinal dele. Sei que ele existe e até tem nome próprio - não o vejo mas sinto-o. Assim como sinto o vento bater na minha cara e empurrar meus cabelos para cima. Toco e atravesso uma nuvem, agora uma outra mais branquinha. Escuto a música instrumental da natureza, bebo água do rio e depois ligo para ela. Ou mesmo penso nela (o que não deixa de ser uma ligação). E faço tudo isso para passar a monotonia da minha viagem ao solo. Ou até mesmo para dar sentido ao grande salto. Conheço seres que pularam depois de mim e já tocaram o chão, desde já percebo que as alturas não são iguais para todos, muito menos os pesos, são apenas vontades de Deus. Enquanto isso, ao menor dos descuidos lembro que estou em pleno vôo... É um piscar de olhos, uma pausa na escrita e já vem o vento, as nuvens: o salto. Sei que ao chegar ao solo virarei solo, e gostaria que de meus ossos se fizessem casas, e cordas de violão dos meus cabelos. Assim sendo, darei sentido a tudo. Terei início/meio/fim. Serei o salto, ela e o vento, casas e cordas. E direi a todos que lá embaixo estiverem: A vida não é um salto para a morte, a vida é um salto para a vida.

bruno

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Desenho de sons

Desenho-a com o lápis preto

Procurando sentir como se dá cada rabisco seu,

A adivinhação do mistério contido em cada risco

Ao contornar seus deslizes.

Uma letra enrola noutra letra,

Muitos símbolos e marcas no papel.

Atravessado pelas palavras,

Ah poesia,

Por sentir com toda a soma dos sons inaudíveis

O trânsito de nossas sementes

Uma lágrima que escorreu forte,

Deslizou por todos, de um rosto

E por teu dedo foi tocada,

Foi tocada.

Sons e quietudes então entram em cena

Atravessando os mesmos espaços

Por horas e horas a fio.

Foi tocada.

Oração que simplesmente acabou por transbordar nossos limites

Ao repetir algumas palavras sagradas

Ah Poesia!

Desenrolando letras estranhas e mágicas

Poesia,

Fui tocada.


Paola Mallmann

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lições irrefutáveis de uma boca suja

Não sei ser breve,

Não sei ser reles,

Não sei ser pano quente

Sobre os fatos.


Eis a minha desgraça.


Há palavras cortadas

Nas cartas que escrevo.

Há palavras que eu engulo no seco.


Viva a minha mentira.


Me estendo na lama

E assim acho alguma luz.


E falo desnecessariamente a todos.


A minha prolixidade,

Absurdamente de infância,

Já não vai à escola.

Só sabe ser lama.


A crueldade das pessoas,

Esses meus colegas lamacentos,

Já não me arrancam lágrimas.

Hoje me rendem versos.


Confio na minha poesia

Com o mesmo afinco

Com que desconfio

Dos ouvidos atentos a ela.


É uma confusão, a minha poesia.

Morgana Rech 9/9

domingo, 13 de setembro de 2009

O macaco da vida

Na noite branca macacos rodam suas calças de veludo pro mundo vir abaixo
Sobre o céu claro feito de poeiras virgens
Eles percebem a dúvida lúcida que eles trazem em seus miolos,
mas não cansam de chutar um pulmão de tabaco

Os macacos seguem sendo medíocres
Cuspindo suas salivas ácidas do chiclete de cola
Peidam e cagam dinheiro pro mundo rasgar no pó

Esses macacos são feitos de chumbo,
pois trazem o peso de seus passados no rabo que lhes equilibra
São ociosos de tanto trabalharem suas matracas
E seguem vivos curtindo uma vida regada a copos sensíveis.

Lucas Velo rodrigues

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Algumas vezes...

Eu tive sonhos perfeitos
Acordei sem eles
O quão real é minha imaginação?
O quão abstrato é minha vida?

Quando respostas
Não são suficientes
Ou perguntas
Incompletas

Tentar entender
Sem realmente sentir
Tentar sonhar
Sem ao menos dormir

Viver numa colorida e doce fantasia?
Ou
Existir numa cinza e fria realidade?


Andréa Cury Marques

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cobrando tributos emocionais

Vou te dar moratória

e dividir teus tributos,

em dívidas emocionais,

a cada falta um encargo pesado.

Já abri uma exceção, agora só terá coração

E a razão... fugirá do meu alcance.

Inverterei os valores,

e passarei ao fisco a cobrança.

Assim, me eximo com neutralidade

e só recebo o que mereço.


K.L.M.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Hospedeiro

Esse vírus, por mais nocivo,
precisa de mim bem vivo.

Se ele é, como dizem, um assassino,
que matou milhões de indivíduos,

é, antes disso, meu inquilino.
Precisa de mim bem vivo.

Ou seja, se eu morrer, ele vai comigo.
Ele sabe: matar-me seria suicídio.

Fernando Saldanha

terça-feira, 8 de setembro de 2009

..uterviL..

Livretu,
Livreeu,
Livrenos,
Livrevós,
Livreeles, de todas suas angustias,
de todos os seus males, das maiores dores,
aos maiores medos.

Livre-és-tu ao imaginar a liberdade,
tão latente em teus olhos,
que não liberta-se, simplesmente,
deixa escorrer a lágrima enclausurada na masmorra de teu coração.

Liberte-se,
Livre-se,
Livretu.

Lauro Marçal.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

galo velho barreiro


orgia
livre orgia
orgiamente livre
livre de qualquer... orgiamente livre

livre-se
do
livreto e
do
livretu e
do
livre.arbítrio

livrezinho.livreco
ligaremos. limparemos.
livremos.libertemos
livrozinho.ligadaço

liberdade:
li o que eu li
e li o que quero ler

"leberdade":
li o que quero ser
e li o que tenho que ler

lealdade:
li o quero parecer
e li tudo de que quero ser livre

limo:
li tudo de que quero ser livre
e que
venha a ser livre quando o queira,
e sempre!

livre da liberdade de tentar ser livre,
simplesmente,
porque queria ser!
(livre ou não)

da leberdade francesa
da leberdade spanhola
da leberdade eurocêntrica
da lerbedade simbólica
sim, ler...ber...

"lerberdade"
lerberdade meu senhor!!!
lerberdade meu amor
e não liberdade
isto não!
isto-nunca
isto nunca mais
isto nunca jamais
isto nunca jamiroquais
simplesmente ler_ber_dade
é isto que quero
simplesmente ser,
representar
e realmente enxergar
o que vem
em frente a toda essa
liberdade ao fim!
mortos nas covas!
necessidade: despresiva!
esperança: ignorada!
fim!
sim!
é o começo do fim!
assim,
que vamos!
bem de vagarim!
ao passos de tartaruguim!
sem querer,
meio que se retirandim!
me vou
adeus

BBArámburu