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Blog dedicado à livre literatura. Poemas, contos, crônicas, músicas, palavras ao vento... e o que te fizeres viajar pela imaginação. O LIVRETU é livre, e surgiu da idéia de alguns amigos dividirem suas produções, delírios, sonhos, alegrias e letras. Envia tuas composições também! Faça parte dessa grande esfera literária. É livre. E como fala nosso grande Drummond: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida. Envia para livre_tu@hotmail.com tuas idéias. O blog já fez 2 anos e comemora com uma mini-edição impressa e uma confraternização de artes, o ORGIARTE, ambos indo para a sétima edição.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Vôo da Rosa


Resumo de um conto que relata a experiência de uma flor que vivia fixada no jardim de um prédio e agora experimenta a sensação de voar.
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Volto a desviar dos olhares nas ruas escuras. Olhares que me pedem um botão a mais, gritos que me exigem um a menos. Mas sou levada pelo vento, na escuridão, e a única luz que tenho trago dentro de mim. Escrevo estes versos para não deixá-la apagar, pois ele é forte e está soprando contra. Às vezes, o vento que vinha das bocas era tão forte que chegava a arrancar pétalas do jardim do prédio onde eu vivia, até que me arranquei inteira e agora pairo no ar. Não tenho saudade do jardim enclausurado, mas aos poucos a idéia das grades me ensinaram a falsa sensação de proteção. Hoje vejo que me poupavam desta liberdade esvoaçante, também falsa pois o vento ainda decide o caminho. Ele me leva para lá e para cá, principalmente sobre a luz do sol, quando andamos em harmonia. Se me comporto mal ele se enfurece, transforma-se em milhões de vozes que tecem comentários maliciosos a meu respeito, em voz alta. Pensa que não posso ouvir, mas sabe que tenho uma sensibilidade aguçada. Já percebi que nestes casos, o melhor a fazer é fingir. Quando está de bom humor ele é manso, quer que eu me movimente suavemente e às vezes me pede para dançar para ele, exigindo impiedoso que eu seja forte ao mesmo tempo, e que crie raízes aqui e alí, limitando-me ao seu campo de visão. Aprendi a lidar com o vento, embora ainda caia de vez em quando e bata com as pétalas no chão, tendo que levantar em seguida para mas um vôo. Conhecí algumas técnicas de desvio, e às vezes visito alguns jardins repletos de crianças e flores sábias que me ensinaram a ir em busca do campo. Caso contrário, dizem, o vento nos arrastará pelas estradas de concreto até virarmos apenas caule, espinhento e repulsivo para ele que, decepcionado, não vai mais querer nos conduzir.


Morgana Rech

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