Neste exato momento
Tem alguém nascendo
Tem alguém morrendo.
Alguém dançando
Alguém transando.
Em algum lugar
Há um cara tomando banho
E outro se afogando.
Tem um sujeito levando tiro
Outro roubando e um tal de Carlos chorando...
Tem a menina espiando
Pela fechadura da porta
A namorada dando pro melhor amigo do cara...
E um louco por ai cantando.
Tem a mãe que lê um conto de fadas
A menina sendo estuprada
E o garoto fotografado pelado.
Tem o adolescente bebendo uísque
Um aniversariante
E a grávida com desejo de sorvete de melancia.
Tem criança cheirando cola
Tem uns piás na internet
E o baterista compondo uma música.
Tem família brigando
Uma mulher apanhando
Um traficante fumando
E uma noiva se arrumando
É o grande dia!
Em algum lugar crianças brincam na chuva
E em algum outro morrem de fome.
Tem alguém dormindo
Alguém comendo.
Carros batendo
Gente vendendo.
Gente comprando
Gente gastando.
Gente bebendo
Gente gritando.
Gente beijando
Gente cortando.
Gente lendo
Gente olhando
Gente conversando.
Tem o amigo indo embora
O cara que fica sozinho
Pensando na mulher que ama
Que tanto deseja e não pode ter.
Tem patricinhas no shopping
Uma sessão de cinema lotada
Um gato miando
E uma cova sendo arrombada.
Neste exato momento
Em algum lugar do mundo
Tem um casal se apaixonando
E outro rompendo.
Tem o bebezinho caindo, sem se machucar.
Tem modelo posando
Costureira costurando
Surfista surfando
Pintor pintando
Professor ensinando
Escultor moldando
Caçador caçando
Bailarina dançando
Garçom anotando
E
Policial roubando.
Há o cara vendo a vizinha trocar de roupa distraída
O cachorro enterrando o osso
E osso de dinossauro sendo desenterrado
Tem festa de batizado e formatura.
Tem alguém que acabou de deixar
De acreditar em Deus
E tem alguém vendo a luz.
Tem uma alma queimando no inferno
E outra indo pro céu.
Tem o cara gozando, por trás
E outros dois transando no banheiro
A guria apanhando por que ta grávida
O cara tirando meleca do nariz
E outro colocando piercing
Tem vinte e dois homens de coxas
Bem torneadas jogando futebol
E um alcoólatra dormindo na calçada.
Aquele casal que se separou
Começa a perceber o quanto se gosta
E a criança que estava nascendo
Nasceu.
É uma menina, se chama Constanza
Vai morrer aos vinte e cinco
Acidente de carro, fatal.
Ela vai morrer grávida
E a criança, por um milagre,
Destes que o destino cria às vezes,
Sobreviverá.
Tem um cara sendo multado
Outro no telefone
E um que perdeu a carteira.
Tem uma puta descansando
E um gordo tarado pensando.
Tem uma flor desabrochando
Um lindo dia de sol convidando
Uma escritora tentando parar de escrever
Tem uma porta se abrindo
Um cara sentado, com sono
Uma casa desabando.
Neste exato momento
Em algum lugar do mundo
Este poema chegou
E tem alguém o lendo.
ANA BEISE
Bravo!
ResponderExcluirMurilo