O Livretu é um...

Minha foto
Porto Alegre, RS, Brazil
Blog dedicado à livre literatura. Poemas, contos, crônicas, músicas, palavras ao vento... e o que te fizeres viajar pela imaginação. O LIVRETU é livre, e surgiu da idéia de alguns amigos dividirem suas produções, delírios, sonhos, alegrias e letras. Envia tuas composições também! Faça parte dessa grande esfera literária. É livre. E como fala nosso grande Drummond: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida. Envia para livre_tu@hotmail.com tuas idéias. O blog já fez 2 anos e comemora com uma mini-edição impressa e uma confraternização de artes, o ORGIARTE, ambos indo para a sétima edição.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

As Palavras que Sempre se Repetem


Neste exato momento

Tem alguém nascendo

Tem alguém morrendo.

Alguém dançando

Alguém transando.

Em algum lugar

Há um cara tomando banho

E outro se afogando.

Tem um sujeito levando tiro

Outro roubando e um tal de Carlos chorando...

Tem a menina espiando

Pela fechadura da porta

A namorada dando pro melhor amigo do cara...

E um louco por ai cantando.

Tem a mãe que lê um conto de fadas

A menina sendo estuprada

E o garoto fotografado pelado.

Tem o adolescente bebendo uísque

Um aniversariante

E a grávida com desejo de sorvete de melancia.

Tem criança cheirando cola

Tem uns piás na internet

E o baterista compondo uma música.

Tem família brigando

Uma mulher apanhando

Um traficante fumando

E uma noiva se arrumando

É o grande dia!

Em algum lugar crianças brincam na chuva

E em algum outro morrem de fome.

Tem alguém dormindo

Alguém comendo.

Carros batendo

Gente vendendo.

Gente comprando

Gente gastando.

Gente bebendo

Gente gritando.

Gente beijando

Gente cortando.

Gente lendo

Gente olhando

Gente conversando.

Tem o amigo indo embora

O cara que fica sozinho

Pensando na mulher que ama

Que tanto deseja e não pode ter.

Tem patricinhas no shopping

Uma sessão de cinema lotada

Um gato miando

E uma cova sendo arrombada.

Neste exato momento

Em algum lugar do mundo

Tem um casal se apaixonando

E outro rompendo.

Tem o bebezinho caindo, sem se machucar.

Tem modelo posando

Costureira costurando

Surfista surfando

Pintor pintando

Professor ensinando

Escultor moldando

Caçador caçando

Bailarina dançando

Garçom anotando

E

Policial roubando.

Há o cara vendo a vizinha trocar de roupa distraída

O cachorro enterrando o osso

E osso de dinossauro sendo desenterrado

Tem festa de batizado e formatura.

Tem alguém que acabou de deixar

De acreditar em Deus

E tem alguém vendo a luz.

Tem uma alma queimando no inferno

E outra indo pro céu.

Tem o cara gozando, por trás

E outros dois transando no banheiro

A guria apanhando por que ta grávida

O cara tirando meleca do nariz

E outro colocando piercing

Tem vinte e dois homens de coxas

Bem torneadas jogando futebol

E um alcoólatra dormindo na calçada.

Aquele casal que se separou

Começa a perceber o quanto se gosta

E a criança que estava nascendo

Nasceu.

É uma menina, se chama Constanza

Vai morrer aos vinte e cinco

Acidente de carro, fatal.

Ela vai morrer grávida

E a criança, por um milagre,

Destes que o destino cria às vezes,

Sobreviverá.

Tem um cara sendo multado

Outro no telefone

E um que perdeu a carteira.

Tem uma puta descansando

E um gordo tarado pensando.

Tem uma flor desabrochando

Um lindo dia de sol convidando

Uma escritora tentando parar de escrever

Tem uma porta se abrindo

Um cara sentado, com sono

Uma casa desabando.

Neste exato momento

Em algum lugar do mundo

Este poema chegou

E tem alguém o lendo.


ANA BEISE

Um comentário: