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Porto Alegre, RS, Brazil
Blog dedicado à livre literatura. Poemas, contos, crônicas, músicas, palavras ao vento... e o que te fizeres viajar pela imaginação. O LIVRETU é livre, e surgiu da idéia de alguns amigos dividirem suas produções, delírios, sonhos, alegrias e letras. Envia tuas composições também! Faça parte dessa grande esfera literária. É livre. E como fala nosso grande Drummond: Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, Mas a poesia (inexplicável) da vida. Envia para livre_tu@hotmail.com tuas idéias. O blog já fez 2 anos e comemora com uma mini-edição impressa e uma confraternização de artes, o ORGIARTE, ambos indo para a sétima edição.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

...Então, Idalina. O que vais escrever? Jamais se pergunte antes de começar a fazê-lo, depois se vê, ok? Às vezes, tudo bem, uma carta, um infinito de paixão, alguém assim que um dia vai embora e deixa sua presença tão forte ou mais que quando estava de corpo. Aí tudo bem, entendo-te, romântica. Acho que há um destes em mim, acho mesmo. Talvez queiramos inventar sentimentos e sensações, como tomar o Martini com pimenta, entende? A vida passa, passa, mais um ano, calendário romano, e nós novamente só trocamos de roupas. Ida, apronte-se e continue, espero que a estrada venha sempre até você e o vento esteja sempre a seu favor, sempre não, às vezes contra, pra que teu cabelo não lhe incomode o rosto. Ida, um dia terás que Voltar. Sei que não gosta destas brincadeiras, mas estou batalhando por meu senso de humor, estou mesmo. Também não queria ser perfeito, a perfeição me dá nojo. Sabe, não adianta tentar esconder o que a gente sente da gente mesmo, a gente sente e pronto, é muito mais rápido que qualquer outra coisa. ‘Art Blakey e Os Mensageiros do Jazz.’ Apenas para que saiba o que escuto agora. Quando puderes Voltar, diga-me o que você está escutando... Não me olhe assim, viva mesmo como se estivesse sozinha no meio de um monte de gente. Não sei, não me escute, não sei por que, toque guitarra, olha eu dizendo de novo, foda-se, esqueça, não esqueça, lembre-se, vá com ele ou vá sozinha, solidão é alguma coisa que não sei apalpar, pois é. Sei que está tudo na palma da mão, a cigana me falou. E só por ouvir essa palavra eu já me encho de êxtase; ci ga no. Parece-me indomável. Acho lindo. Quis mesmo experimentar todas as coisas, estar lá pra ver, coisa de imaturo, sabe? Mas é isso mesmo, pelo menos sabia que não estava me enganando. Ou estava me enganando sabendo disso, o que se equipara. Meu bem, eu não sei mais, queria que você também não soubesse(...) É dia e já parece noite, o vento grita e os trovões também, a chuva, não haveria como me despedir de você sem que chovesse, em algum momento. Lá numa caverna pedreira do Afeganistão deve haver alguém com a mesma impressão digital que eu. Procuro sempre acreditar nisso, pra viver em sociedade. Entenda o que quiser, foda-se. Está chovendo, meu bem! Ia mesmo acabar com essa coisa toda e te ligar, telefone, sabe, aquela coisa maluca que inventamos, mas faltou carga para o telefone, porque ele é moderno, sabe, não tem fio. Quanto mais complexo mais perto do colapso. Não que já não estejamos nos comunicando e como se você pudesse receber esta carta em qualquer momento que não a hora certa, quando estiver realmente pronta pra ouvir, tudo isso. Uma bomba de água, vou lá colocar a cabeça pra fora da janela, cê me espera? Tive que gritar, agradecer pelo ano e por meus passos, estava no momento, era a chuva. Você não vai sentir bem exatamente o que senti. Então eu entrei, me sequei um pouco, e voltei pra lhe dizer. Estava tão feliz, mas estava sozinho, mas não me sentia só, e alguma coisa doída queria que eu me sentisse só, então vim lhe contar, como se estivesse. No meio disto, você me ligou, você, com uma de suas facetas. Foi rápido, não dissemos tudo que queríamos. O telefone carregou um pouco, em seguida pretendo ligar pra outra você, breve em logo, com esta então acho que consigo falar. Miado de gato; a cor do som; esquizofrenia controlada; queria chamar-lhe de tu e não de você. Mas comecei falando dos avessos, os piratas, anti-heróis, vagabundos, malandros, qualquer um que desafiava a ordem vigente, mostrando a capacidade criativa do caos, o movimento, não-estagnação, chuva, tudo isso. Então chega, lembrei disso só pra dar um caráter cíclico para o que eu escrevo... Se sente honrada por eu lhe contar um segredo? Você bem sabe disto melhor que eu, o círculo, bla bla bla. Mas então, na verdade tudo isso é só verdade, e a gente sabe. Coloca a máscara pra significar de verdade, pra ter alguma coisa por trás, porque temos a necessidade de ver algo por trás. Rasgamos a pele de alguém que apareça desmascarado, pra ver o que sua “mascara” esconde, então não saia na rua sem ela, nem ameaça escrever sem ela. Ou escreve e não mostra pra ninguém, porque ninguém vai entender e vão te atazanar a vida. Tenta viver em paz, é isso que você pode fazer.

Alessandro Rivellino
-"Trechos de Correspondência Piá"

Um comentário:

  1. To tocada com essas palavras... Sim, eu queria rouba-las para dedicar a um certo alguém...

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